As vadias, os partos e os peitos

Da página no FB Movimento Direito Para Quem

Todo mundo ouviu, ou leu, ou viu, em algum momento, sobre a Marcha das Vadias. Se não sabe o que é, vale a leitura da Revista TPM, aqui. Não participei, li algumas coisas e concordo com tudo.

Essa semana que passou, aconteceram várias manifestações em defesa do Parto Domiciliar, ou melhor, sobre o direito da mulher escolher que tipo de parto quer. A Ligia, do blog Cientista que virou mãe, escreveu um post muito bom sobre isso, aqui.

Ontem à noite, fui parar no ótimo blog da Lola, Escreva Lola escreva, e, conforme lia um texto após o outro, todas as fichas foram ressoando dentro de mim, enquanto caíam.

Como resumir ou explicar tudo o que estou pensando e sentindo?

Acho que um grito pode dar conta… (outro, vivo gritando por aqui, né?)

Se ser vadia é sinônimo de fazer o que quer com a própria vida e o próprio corpo, então, sabem, sempre fui uma vadia. Dessas bem dadas mesmo.

Adolescente, ao descobrir minha sexualidade, perdi meus medos e tornei-me dona das minhas escolhas. Fiz o que quis. Saí com quem achava que valia a pena. Usava saia curta e top. Usava calça baixa e blusa curta. Fui bem vadia.

A gente bem sabe o preço que se paga por ser assim. Não é uma apologia à sexualidade desenfreada. É uma constatação de quem é dono de quem. Saí com muito cara FDP. Mas as amigas que não transavam também saíam com caras assim. Naquela época, eu não acreditava em machismo (!) – eu agia dentro da minha lógica e não podia enxergá-lo.

Da página no FB “Marcha do Parto em Casa”

Há pouco tempo, fui mãe. Duas cesarianas, mesmo sempre tendo sonhado com o parto normal – por falta de escolha, por falta de informação, por muitas causas. A primeira, empurrada pelo médico. A segunda, depois de estourar os prazos, acabei desistindo, cedendo… A minha síndrome do pânico provavelmente atrapalharia muito um parto domiciliar. Ainda assim, acredito que é uma escolha da mulher e não do médico.

Agora, os peitos. Os meus peitos, minha gente, os meus peitos. Meus peitos estão molinhos, pequenos, flácidos. E eu queria pôr silicone até 12 horas atrás. Mas aí eu li o texto da Lola sobre peitos, aqui, e, querem saber?, quem me ama, vai ter que ter tesão nos meus peitos do jeito que estão!

Porque eu vou envelhecer, porra!

Meus cabelos já estão brancos, minha pele já não é tão lisa e aí? Quem envelhece não pode mais ser desejada, não pode mais transar com muito tesão?

Por que temos que ser o referencial masculino de beleza, de esposa, de mulher e não o nosso próprio?

Escolhi parar de trabalhar para cuidar dos meus filhos – por que isso seria sinônimo de estupidez? Quem disse que dona-de-casa é burra?

(é, tô misturando tudo)

Sou bem vadia. Sou mulher que escolhe o que quer. Sou dona-de-casa culta. Tenho peitos pequenos, unhas por fazer e cabelos por pintar. Por que devo me sentir menor?

As tantas exigências…
Ilustração de Juliana Camargo

Precisamos dizer “não” aos médicos que impõem suas condutas de parto; aos imbecis que alegam culpa da mulher em um estupro; aos homens que não têm relacionamentos com mulheres que transam logo, com mulheres independentes, com mulheres inteligentes; às pessoas que atribuem à beleza o fracasso ou o sucesso de uma relação.

Para! Não sou namoradinha do Brasil, nem atriz de filme pornô. Eu não tenho o corpo delas e nem preciso agir como elas. Posso ser eu, misturando ou alterando-as com as outras dentro de mim.

As marchas do parto e das vadias, as discussões que já tivemos aqui sobre humoristas, amamentação e blogueiros, é tudo uma coisa só: um grito de basta a esse machismo velado, a essa necessidade de beleza de mentira, a esse monte de babaca, filhos de chocadeiras.

Porque mesmo que você só tenha tido um homem na sua vida, mesmo que você seja modelo de capa de revista, mesmo que você tenha feitos mil cesáreas marcadas, ainda assim, você, amiga, como eu, é dona de seu corpo e das suas escolhas. Todas nós temos que dizer chega!

Blogagem Coletiva: Respeito às mulheres e às nossas decisões #Basta

TUDO COMEÇOU…

Em maio, vários foram os fatos tornando polêmico o ato de amamentação em público. O blog da Rede Mulher e Mãe explica direitinho o que aconteceu ao propor a blogagem coletiva “Eu digo Basta! E vc?“, mas você também pode procurar pelas notícias sobre a amamentação proibida no Itaú Cultural, depois a foto removida pelo Facebook e toda a repercussão disso na internet nos dias que se seguiram.

Esta semana, para “esquentar” o tema, o programa da Bamdeirantes, CQC, na sua continuidade apresentada pela internet, tornou-se foco pelas polêmicas declarações dadas pelos apresentadores. O programa pode ser visto aqui. Revoltadas, algumas mulheres resolveram escrever sobre o assunto – destaque para o blog Escreva Lola Escreva que, ao postar sobre o comportamento destes “rapazes” – o texto é esse aqui -, foi ameaçada pelo apresentador Marcelo Tas de ser processada judicialmente por emitir a opinião dela sobre o programa deles, o que rendeu outro post no blog da moça – aqui.

Independente de quem disse o que, surgiu à tona a questão do respeito às mulheres que amamentam em público. Acho que não só isso, mas do respeito às mulheres de um modo geral. Por isso, todas nós, hoje, queremos dizer “BASTA” não só necessariamente a Marcelo Tás ou Rafinha Bastos, mas aos homens que não conseguem lidar com a questão da maternidade e suas facetas (e peitos, graças a Deus) e emitem suas opiniões desrespeitando as mulheres.

DEIXANDO CLARO

Eu sou TOTALMENTE a favor da amamentação e, sim, da amamentação em público. Tenho dois filhos e os dois foram amamentados – uma ainda é – onde quer que eu estivesse e esteja.

Por outro lado, para me preservar e não constranger quem estiver ao redor, procuro, sim, cobrir meu peito com um pano que estiver à mão. Devo dizer, entretanto, que não é muito fácil segurar uma criança chorando, abrir a blusa, encaixar a criança no peito e cobri-lo ao mesmo tempo. Então, aqueles que estão ao redor deverão ser compreensivos o suficiente para entender que ninguém quer mostrar o seio, somente estamos fazendo as manobras necessárias para que a amamentação de fato ocorra.

Outra coisa que deve ficar clara é, que, SIM, todos têm direito a uma opinião, seja ela qual for. Eu não me incomodo com as pessoas serem contrárias à amamentação em público ou à amamentação ou ao parto este/aquele ou à pena de morte ou a qualquer coisa. As pessoas podem e devem ter opiniões distintas sobre todos os assuntos. Entretanto, emitir uma opinião não significa ofender aquele que pensa/age de forma distinta do que se gostaria.

RESPEITO É BOM E TODO MUNDO GOSTA

O que significa a palavra respeito? O verbo “respeitar” vem do latim respectare e significa, originalmente, “tomar em consideração, preocupar-se com”. Por mais que tenhamos opiniões diversas, é bom que se leve em consideração, que haja uma preocupação com o outro – como ele pensa, age e, principalmente, como se sente com aquilo que eu digo.

Por isso, emitir opinião pode. O que não pode em relação à amamentação? Não pode, é totalmente desrespeitoso:

  • Pedir a uma mãe amamentando que saia de onde está para não incomodar as pessoas;
  • Bloquear uma foto do ato de amamentar para que as pessoas não fiquem “constrangidas” – cada um que bloqueie esta pessoa ou reclame com ela mesma;
  • Comparar o ato de ALIMENTAR uma criança publicamente com o ato de MASTURBAR-SE publicamente. Afinal de contas, cada um deles tem propósitos diferentes, por mais que possa haver um item em comum – o seio.
  • Ofender com comparações e analogias vulgares as mães que decidem, sim, amamentar seus filhos publicamente. Dizer que se sente incomodado com isso é válido, mas usar termos como “rocambole”, “buchiba”, “aquela teta”, “mãe que precisa de joelheira ao invés de sutiã” é simplesmente inaceitável e vai justamente contra o termo respeito, quer dizer, não leva em consideração o seu interlocutor…

O desrespeito é algo engraçado – os homens podem falar das outras mães desta forma. Agora imaginem se alguém falasse assim das mães deles? Porque sempre falar da mãe do outro é “legal”, mas falar da própria mãe é um absurdo… por quê?

MATERNAGEM ou MATERNIDADE

As pessoas não aceitam que se ofenda a própria mãe porque, em um grau maior ou menor, são capazes de reconhecer que pelo menos a sua mãe cuidou e se dedicou a elas quando pequenas. O que há entre uma mãe e seu filho é sagrado e há até um termo na psicologia que define isso: maternagem – “Relação calorosa e amiga com a mãe ou com aquela que a substitui” (tirada do Houaiss); essa relação ocorre, em especial, nos primeiros meses da criança e pode ser observada, principalmente, no ato de amamentação – ou de alimentação naquelas que usam da mamadeira.

Tudo isso não é para se colocar na posição de vítima. Ao contrário. É para tentar mostrar o quanto há de dedicação em ser mãe. Para os homens, nem sempre é possível visualizar este momento. Não conseguem perceber o que se passou com as suas mães e  o que se passa com suas esposas.

Para muitas mulheres, por exemplo, o ato de amamentar, logo que a criança nasce, pode ser muito difícil e doloroso – parece não haver dor maior no mundo do que dar de mamar quando há rachadura, pedras, ingurgitações. Ainda assim, as mães o fazem. Como se não bastasse a dor, a maioria das crianças mama a cada duas, três horas, demorando, em média, cerca de 30 minutos no peito. Então, tudo o que a mãe pretende fazer, deve ser feito em pouco tempo e que possa haver intervalos regulares. Acaba-se passando a maior parte do tempo em casa, fazendo tudo o que deve ser feito aos poucos, inclusive as coisas voltadas para si mesma. Dar conta de tudo o que há em uma casa, além de um bebê e ainda tentar lembrar de si mesma não é tarefa muito fácil.

Imagine, então, tamanha dedicação para sermos ridicularizadas por nossas escolhas? As pessoas não se dão conta de que são as mulheres que possibilitam a vida ser gerada. É lógico que sabemos da importância dos homens e de seu papel na concepção. Mas conceber é uma coisa, gerar é outra e vai muito além do útero.

PARA QUE SERVEM ESTES PEITOS?

É lógico que amamentar é um ato prazeroso e está ligado à sexualidade, como bem lembrou a Glau em seu post de hoje – aqui. Estar ligado à sexualidade não significa ser um ato sexual como pensam alguns homens. Os propósitos dos peitos, no momento da amamentação, são outros, não os de deixar excitado algum macho que esteja ao redor.

O homens ficam confusos ao verem o seio tratado de modo tão natural, tão prazeroso e que não esteja ligado ao sexo. Mas, sabe, que me perdoem aqueles que realmente fazem valer a pena a presença do sexo masculino, vamos parar pra pensar… Os maiores crimes sexuais são cometidos em grande, grande parte por homens. Perdoem-me, mas é verdade:

  • Tarados masturbando-se em público – nunca ouvi falar de uma mulher fazendo isso em público, mas já nos deparamos com alguns destes homens…
  • Agressão às mulheres. A Lei Maria da Penha não foi criada por causa do alto índice de mulheres que agridem seus maridos, mas pelo contrário: são homens covardes os agressores.
  • As propagandas com mulheres semi-nuas vendendo todo tipo de tranqueira são direcionadas aos homens e, como a gente sabe, além de impor um padrão de beleza absurdo, colocam-nos como se nossa – única – função fosse ser seu objeto sexual. O post do blog Chicória e Chicórinha fala exatamente disso, vale muito a pena ler aqui.
  • Estupro, pedofilia, pornografia infantil também são índices ligados aos homens e pouquíssimo a mulheres…

Então, sabe, quem é que tem problemas com a sexualidade? Quem é que não sabe lidar com o corpo – seja feminino ou masculino? Quem é que está atribuindo uma função distinta daquela que há no ato de amamentar? Quem é que está nos ofendendo? Tratem-se primeiro, depois venham discutir amamentação conosco!

ENFIM…

Não sou feminista radical, mesmo que fosse ou mesmo que não fosse, não importa, sou mulher e sou mãe. Por isso (tudo), eu digo basta a essa misogenia, a esse machismo absurdo, a essa falta de compreensão do ato de amor e de prazer que é a amamentação.

Eu digo basta a toda falta de respeito que existe em relação às mulheres.

Basta! Que haja respeito às nossas decisões.

Outros blogs que publicaram sobre o texto:

Amamentar e natural e sexual #basta – Blog Coisa de Mãe

Passou dos limites das Tetas de Fora – #BASTA – Blog Mammi Super Duper

Blogagem coletiva: Eu digo basta! E você? – Blog Lele (neneca)

Blogagem coletiva: Eu digo basta! E você? – Blog Dalaula

Blogagem coletiva: Eu digo basta! E você? – Blog Coisas Minhas

Blogagem coletiva: Eu digo basta! E você?
 – Blog Katralhas

Eu digo basta, e você? – Blog Uma mãe e muita coisa

Blogagem coletiva: Eu digo basta! E você? – Blog Aprendendo com Davi

A polêmica do mamaço… – Blog Bagagem de Mãe

Blogagem coletiva: Eu digo basta! – Blog Descobertas

Eu digo basta, e você? – Blog Todo Amor que Houver nessa Vida

Blogagem coletiva pela amamentação – Blog Histórias de cá pra lá, de mãe e filha e histórias de todo dia!!

Blogagem coletiva: Eu digo basta! E você? – Blog Mamãe do João Pietro

Basta – Blog O Mundo de Sofia

E, ainda, a amamentação – Blog Mãeterna

Maria vai com as outras mães – Blog da Diiirce

Falta de respeito não! BASTA – Blogagem Coletiva – Blog Lenita de Paula

A triste história do pai que amamentava – Blog Porque só quem usa sutiã 44 sabe da responsabilidade que tem

Nós também dizemos basta! – Blog Ellis Little Doll

Feministas também usam sutiã la perla – Blog Vinhos, viagens, uma vida em comum e dois bebês